A história do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Vespasiano, Lagoa Santa, São José da Lapa e Confins iniciou-se, oficialmente, no dia 21 de fevereiro de 1981. Nesta data foi realizada, no salão nobre da Câmara Municipal de Vespasiano, assembléia geral, convocada pela Federação dos Trabalhadores nas Industrias Metalúrgicas de Minas Gerais, então presidida pelo Senhor Jorge Norman.

     Mas a história do Sindicato, de fato, iniciou-se no interior da empresa Demag, a partir da iniciativa do senhor José Ferreira Vilela, que, vindo da Oposição Metalúrgica de São Paulo (MOMSP), trouxe de lá suas idéias revolucionárias, incendiando os trabalhadores da Demag, movimento que, naquele momento, encontrou eco no interior da BMB – Belgo Mineira Bekaert Artefatos de Arames Ltda.

     A assembléia ocorreu como previsto, entretanto, nos bastidores, vários acontecimentos marcaram profundamente a história do Sindicato.

     O companheiro Vilela, ao retornar ao trabalho na Demag, foi interceptado pela chefia e pelo setor de segurança patrimonial da empresa, os quais, com o objetivo de impedir que este fosse registrado como primeiro presidente da Associação, portanto portador de estabilidade provisória no emprego. Os patrões não queriam que o Sindicato tivesse raízes revolucionárias, principalmente pelo fato de o companheiro Vilela ter sido liderança importante nas lutas travadas pela classe operária contra a ditadura militar, no final dos anos 80 do século passado.

     Vilela driblou a segurança da Demag, saltou a cerca da empresa e atravessou o Ribeirão da Mata, a nado, para não ser preso e ser demitido por justa causa.

     Vilela pensou rápido, pois, se o presidente da Federação dos Metalúrgicos protocolasse, no dia seguinte, a documentação da Associação no Ministério do Trabalho, ele estaria protegido contra uma dispensa arbitrária, o que dificultaria ou impediria a manobra do patrão da Demag. Ledo engano, pois, o presidente da Federação, atrelado ao governo militar e subserviente aos patrões não protocolou o documento. Resultado: Vilela nunca chegou a assumir o cargo para o qual foi eleito.

     No dia 17 de abril de 1981, a pretexto de regularizar a situação da Associação, por conta do “abandono” dos cargos por parte dos operários que compuseram a primeira diretoria da entidade, o Sr. Jorge Leite Nunes, através de outro dirigente da Federação dos Metalúrgicos, senhor Humberto Canhoné, convocara uma nova Assembléia Geral dos Metalúrgicos de Vespasiano. Participaram 55 trabalhadores, e nessa assembléia foi eleita e empossada a primeira diretoria da Associação dos Metalúrgicos, que teria o papel de gerir a entidade, até que fosse eleita uma nova direção, ou a associação fosse transformada em sindicato.

     No dia 10 de setembro de 1982 aconteceu a primeira assembléia da categoria, para deliberar sobre pauta de reivindicações, e buscar a primeira negociação coletiva da data base dos metalúrgicos. As principais reivindicações eram: a) – Reajuste salarial, de acordo com o INPC acumulado do semestre (Lei Salarial 6.708); b) – Aumento real de 15%, a título de produtividade; c) – Anuênio de 3%, dentre outras.

     A primeira reunião de negociação foi realizada no dia 23 de setembro de 1982. Porém, tal reunião não fora deliberativa, uma vez que, na época a competência para negociar era da Federação, e a Associação tinha apenas um papel figurativo no processo de negociação salarial.

     No dia 27 de junho de 1984, foi realizada a primeira grande assembléia dos Metalúrgicos, cujo objetivo foi eleger uma nova direção e obter quorum de participantes para ingressar com pedido, junto ao Ministério do Trabalho, de transformação da Associação em Sindicato. Participaram desta Assembleia 184 associados, que aprovaram o encaminhamento do pedido de transformação ao Ministério do Trabalho, bem como aprovaram o primeiro modelo de estatuto do Sindicato.

     No dia 15 de fevereiro de 1985, foi publicado, no Diário Oficial da União, autorização do Ministério do Trabalho, para a transformação da Associação em um Sindicato. Já no dia 21 de maio de 1985, a diretoria da Associação realiza reunião para deliberar sobre uma viagem à Brasília, para buscar a Carta Sindical, que fora assinada no dia 14 de maio de 1985, pelo então Ministro do Trabalho, Sr. Almir Pazzioanotto.

     A primeira reunião deliberativa do Sindicato, já com sua nova diretoria eleita, ocorreu no dia 19 de setembro de 1985, ainda no mesmo local onde funcionava a Associação. Vale ilustrar que o Sindicato dividia o aluguel com a funcionária Luci, utilizando um cômodo da residência.

     Esta primeira reunião foi dirigida pelo Sr. Eustáquio da Silva (Bafo), que tinha como Vice-Presidente o Sr. Washington Augusto de Oliveira. Vale acrescentar que os dois disputaram a cabeça de chapa, mas Washington perdera por um voto de diferença (6 X 5). Começava, ali, então uma mudança radical na postura da direção da organização dos trabalhadores de Vespasiano.

     Em setembro de 1985, a partir da participação de trabalhadores da empresa J.R. Fischer Metalúrgica Ltda, empresa situada em Lagoa Santa, tem início o processo de extensão da Base Territorial do Sindicato para aquele município. O Sindicato, nesta ocasião, já funcionava em sua nova sede, na Rua Ary Teixeira, local onde permaneceu por 19 anos, até a inauguração na sede própria, em 1994.

     Em fevereiro de 1986 o governo brasileiro lança o Plano Cruzado. Os metalúrgicos de Vespasiano e Lagoa Santa, apesar de estes últimos ainda não fazerem parte da nossa Base Territorial, estão em plena Campanha Salarial de Emergência. Lutávamos pelo reajuste automático dos salários, principalmente por conta da hiperinflação, que já ultrapassava 84% ao mês. O Sindicato fez uma importante campanha junto aos trabalhadores da BMB, que só foi sufocada pelo forte aparato policial do Estado deslocado para Vespasiano.

     Na Metalfischer, em Lagoa Santa, foi diferente: os trabalhadores paralisaram as atividades da fábrica, e só retornaram ao trabalho depois que o patrão concedeu os 25% que eram reivindicados. Ou seja, a primeira greve de nossa categoria foi realizada por trabalhadores que ainda não haviam ingressado nela.

     Em outubro de 1986 realizamos nossa primeira greve geral da categoria. Paralisaram as atividades as empresas: BMB, Demag e Nordberg, em Vespasiano, e a Metalfischer, em Lagoa Santa (ainda não pertencente à nossa Base Territorial). Na BMB e na Demag, a greve foi dentro da fábrica, sendo que na BMB foi por ocupação. Os trabalhadores liderados pelos dirigentes sindicais, Valério e Marcelo permaneceram acampados dentro da empresa por quatro dias. Desocuparam as instalações na quinta-feira, depois que a empresa obteve o mandado de reintegração de posse.

     Como resultado dessa Campanha Salarial, importantes conquistas foram incorporadas ao patrimônio dos Trabalhadores da BMB, como, por exemplo, os feriados de 1º de Maio (Dia do Trabalho) e 1º de janeiro (Dia da Confraternização Universal); As setenta horas de Retorno de Férias; o Adicional Noturno de 45% nos dias normais e de 60%, aos domingos e feriados etc. Estes benefícios foram discutidos e negociados com a BMB através da Comissão de Fábrica, maior conquista da greve de 1986, e que existiu na BMB até 1993, quando foi extinta, unilateralmente, pela BMB.

     A Campanha Salarial do ano seguinte, 1987, foi realizada sem confrontos e conflitos. Mas, em 1988, já com o Sindicato sendo gerido por sua segunda diretoria eleita, realizamos a mais longa e abrangente greve geral de nossa Categoria. Foram 7 dias de greve, realizada fora das empresas e participaram trabalhadores da BMB, Mannesmann Demag, Metal Fischer (desta feita com Lagoa Santa já pertencente à nossa Base Territorial, pois o pedido de extensão de base foi concedido e apostilado em dezembro de 1986), Nordberg, Mecan (recém transferida para Vespasiano) e Semeato.

     Após esta greve vários trabalhadores foram demitidos. Estas demissões ocorreram, em sua maioria, nas empresas BMB e Demag, e tinham como vítimas as principais lideranças surgidas durante a greve.

     Na Campanha Salarial de 1989 não houve greve. Porém, após uma assembléia realizada na portaria da BMB, cinco diretores do Sindicato (Marcelo Cândido, Eustáquio da Silva – Bafo, Milton Rodrigues, Ricardo Stark e José Ferreira – Pernambuco) e um integrante da CIPA da empresa, Sr. José João, tiveram seus contratos de trabalho suspenso, para apuração de falta grave e conseqüente demissão por justa causa.

     Paralelo às campanhas salariais de 1988 e 1989 (foto), foi realizada a campanha pela Quinta Turma na BMB, campanha que se iniciou tão logo a Assembleia Nacional Constituinte aprovou o texto final da Constituição da República de 1988. Esta campanha durou dois anos. Em abril de 1990, foi implantada a Escala Francesa na BMB, escala que funcionou na empresa até agosto de 1996.

     Em novembro de 1990, após a Campanha Salarial, o então presidente do Sindicato, Sr. Eustáquio da Silva, decidiu renunciar ao cargo de presidente e negociar com a BMB o restante do seu mandato e sua estabilidade. Sua decisão se deu por conta de dois inquéritos para apuração de falta grave e pelo caráter sedutor da proposta apresentada pela empresa. Bafo vendeu sua estabilidade.

     No final de dezembro daquele mesmo ano, outro diretor, Marcelo Cândido, viria a negociar sua estabilidade com a BMB.

     Em 1991, em virtude do desligamento de vários diretores, houve uma reestruturação importante na direção do Sindicato. assumiu a presidência o Companheiro Vander Lúcio e novos dirigentes se engajaram nos quadros do Sindicato.

     Em 1993, após uma greve de três dias na BMB, nove diretores foram forçados a se desligaram do Sindicato, em troca da readmissão de 14 trabalhadores de um total de 53 que haviam sido demitidos por justa causa. A partir daí o Sindicato passou por um longo período de refluxo, com poucas lutas e uma carência evidente de novas lideranças.

     Em 1994 o Sindicato inaugura sua sede própria, após três anos de obras. O restante da história, e os detalhes de cada acontecimento importantes ocorridos serão contados em capítulos neste site.

     A Direção atual do Sindicato dos Metalúrgicos – gestão 2009/2012 – ao inaugurar este site e divulgar um pouco da história da Organização dos Metalúrgicos de Vespasiano, Lagoa Santa e Região, quer homenagear a todos os trabalhadores e lutadores que passaram à frente da Entidade e que fizeram parte da categoria, para demonstrar a importante contribuição do Sindicato dos Metalúrgicos de Vespasiano na construção de uma sociedade mais justa e fraterna, e na luta da Classe Operária.